quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Trabalho de homem?


Fomos à Dupont conhecer uma geração de mulheres para quem a divisão entre papéis masculinos e femininos já não faz nenhum sentido

Era de se pensar que uma empresa que começou como fabricante de pólvora e que sustenta o título de segunda maior companhia química do mundo fosse um lugar que emprega pouquíssimas mulheres. Era. Porque já faz algum tempo que esse tipo de questão nem passa pela cabeça das mulheres que fazem carreira na Dupont. Atualmente, a companhia bicentenária emprega 656 mulheres na filial brasileira — 36% do quadro de funcionários —, sendo que mais da metade está em cargos de liderança.

As engenheiras químicas e agrônomas que encontramos por lá nunca tiveram de enfrentar nada nem ninguém para escolher suas áreas de atuação nem para encontrar espaço dentro da organização. "A nossa CEO é uma mulher! Acho que isso faz bastante diferença", diz Ariana Bottura, de 28 anos, supervisora do Centro de Inovação e Tecnologia inaugurado em 2009. Ariana está falando da americana Ellen Kullman, uma engenheira mecânica de 55 anos que assumiu o cargo mais alto da empresa dois anos atrás.

A chegada de Kullman ao topo da hierarquia manda uma mensagem e ajuda a transformar a Dupont numa referência de igualdade entre homens e mulheres.
Ariana também é chefe. Como ela, existem milhares de mulheres começando a carreira em outras empresas sem se importar se o que escolheram corresponde ou não ao imaginário coletivo de uma profissão feminina. "Estive com um cliente que me disse: 'Nossa, uma mulher cuidando das máquinas.

Sabe que você cuida com muito mais carinho do que o rapaz que fazia isto antes?'", conta Lílian Taís dos Santos, de 28 anos, especialista em genética e melhoramento de plantas. Sim, o comentário pressupõe uma diferença no jeito deles e delas trabalharem, mas talvez esteja aí a maior mudança: nenhuma das entrevistadas acha tão ruim a ideia de reconhecê- las.

"O jogo de cintura feminino, a capacidade de pedir com jeitinho, é mais da mulher e não significa que somos melhores", diz a engenheira agrônomica Ana Carolina Jacinto, de 27 anos. Junto com Nilsa Melo, de 23 anos, Ana, Ariana e Lílian são exemplos de uma nova geração feminina. A carreira delas pode ajudar você a enxergar melhor o futuro do mercado de trabalho.

Lílian Taís dos Santos
Idade: 28 anos
Formada em: agronomia
Trabalha em: Sorriso (MT)

Em busca da especialização
A gaúcha Lílian é mestre em genética e melhoramento de plantas. Na Dupont, trabalha em uma estação de pesquisa de soja no estado do Mato Grosso, a 30 km da cidade de Sorriso e cuida do funcionamento da estação: do laboratório, do maquinário, do plantio e da colheita das plantas. "Tudo que plantamos aqui é analisado depois."

Lílian garante que a ideia de que o trabalho dela é masculino é uma visão de quem está de fora. "Aqui mesmo, na estação, não existe nenhum tipo de espanto ou preconceito." Lílian quer se especializar ainda mais em genética, uma área de pesquisa em que faltam cientistas. Ela lidera uma equipe de sete funcionários fixos e até 40 pessoas contratadas de forma temporária e jura que a única diferença entre os homens e as mulheres é que elas não abrem mão do rímel.

Ariana Azevedo Bottura Palma
Idade: 28 anos
Formada em: engenharia química
Trabalha em: Paulínia (SP)

"Eu fico igualzinha a um Playmobil"
Ariana está longe do estereótipo "mulher em cargo de homem" que seu histórico pode sugerir: é linda, pequena e muito feminina. "Tem muita gente que me vê num bar e diz que tenho cara de quem faz moda. Queria ver se me vissem trabalhando de calça, camiseta e capacete. Fico igualzinha a um Playmobil", diverte- se. Em 2008, quando a Dupont construiu um Centro de Inovação, foi ela quem tocou a obra à frente de 50 homens.

"Lembro que, quando pedi para refazer um piso que não ficou bom, o fornecedor soltou um 'Ah, menina', e sem constrangimento eu respondi 'Desculpe, não estou vendo nenhuma menina aqui'". Antes mesmo de ser inaugurado, Ariana foi convidada a se tornar supervisora do Centro. "Esse centro é meu baby!", diz ela, deixando claro que as referências do universo feminino estão obviamente presentes na hora de falar do trabalho. Hoje, Ariana lidera uma equipe de 26 pessoas, que pesquisam de balística a polímeros.

Nome: Ana Carolina Bliska Jacinto
Idade: 27 anos
Formada em: engenharia agronômica
Trabalha em: Planaltina, perto de Brasília (DF)

Tratamento diferente do chefe
Ana Carolina trabalha em uma estação de pesquisa e se divide entre o laboratório e o campo. "Hoje fico mais na coordenação, mas há alguns anos passava o dia subindo em máquinas, me sujando, descarregando caminhonetes.

Eu adorava." Ela lembra que, quando entrou na faculdade, sua sala tinha outras 11 mulheres e 30 homens. "Dois anos depois, as turmas já estavam bem equilibradas. Teve uma mudança, sim. Sinto que tanto as mulheres quanto os homens passaram da fase do preconceito." Mesmo com o aumento da mão de obra feminina, Ana admite receber um tratamento diferenciado. "Meu chefe tende a ser mais paciente comigo do que com os meus pares homens", diz.

Sem perder a ternura

• O preconceito não faz parte da vida delas. Todas garantem que o espanto no trabalho, quando existe, não tem carga negativa.
• A roupa tem de ser muito básica. Não dá para trabalhar de vestido ou decote. Ponto final. Mas dá, sim, para investir num rímel incrível.
• Conciliar carreira e filhos é o maior medo. Mesmo Ariana, que tirou de letra a combinação promoção mais casamento, diz que não tem certeza de como será sua vida profissional quando pensar em ter filhos.

Nilsa Maria de Paiva Melo
Idade: 23 anos
Formada em: engenharia de materiais
Trabalha em: Alphaville (SP)

Ela gosta de química
Nilsa começou o curso de engenharia de materiais — uma mistura de engenharia química e metalúrgica — em 2004, numa sala bem equilibrada na divisão entre homens e mulheres.

Quando se formou, chegou às etapas finais de seleção das empresas focadas em química. "Nas metalúrgicas não fui tão longe", conta. Especialista em fluídos refrigerantes, ela responde para uma mulher e coordena as atividades de uma estagiária. Já seus clientes são quase sempre homens.

"A diferença de gêneros não é um problema. Difícil é quando encontro alguém fazendo a aplicação de um produto de forma incorreta. A resistência é grande e eles dizem coisas tipo 'Faço isso há anos e você vai querer me ensinar?'."

Fonte: Revista Você SA

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