sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quem ganha e quem perde com a desvalorização do real

Com o dólar na casa dos R$ 2, surgem oportunidades para exportadores e preocupações para quem depende das importações para manter o negócio.

Pela primeira vez em quase três anos, o dólar ultrapassou a barreira dos R$ 2 e não dá sinais de que voltará tão cedo para a casa do R$ 1,60 com que iniciou 2012. Essa valorização da moeda americana, que somou 20% em maio, tem efeitos sobre a economia brasileira e coloca na gangorra empresas de importação e exportação

Se, por um lado, quem compra produtos fora do Brasil é obrigado a encolher as margens e fazer ginástica com a tabela de preços, quem exporta começa a se animar e prospectar clientes com orçamentos mais atrativos. 

Gilberto Campião, consultor da área de comércio exterior do Sebrae, afirma que há um movimento inicial de empresas interessadas em começar a exportar em razão da mudança no câmbio. “Com o dólar mudando, o produto brasileiro ganha uma competitividade que não tinha. Houve 20% de majoração em um mês, e é muito difícil ganhar isso em produtividade no mesmo tempo”, diz. 

Para Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), o movimento do real desvalorizado é positivo, porque favorece a produção das empresas nacionais. “Na China, o iuan está desvalorizado em 60% em relação ao dólar. Outros países do mundo também têm políticas de proteção. O Brasil tem de seguir o mesmo exemplo”, diz. 

O economista e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA) Carlos Honorato afirma que a cotação reflete a incerteza da economia mundial, agravada pelo momento na Grécia, que enfrenta dificuldades e se prepara para deixar a União Europeia. “O dólar é o primeiro lugar onde há impacto quando o mundo está em crise, e é um dos piores lugares para prever e apostar”, diz.

Apesar da dificuldade em prever o futuro do dólar, analistas afirmam que houve uma mudança de patamar e, dificilmente, a moeda norte-americana voltará a cair para as faixas do começo de 2012. “É certo que o patamar mudou. Ele volta um pouquinho, deve ficar na faixa de R$ 1,80 a R$ 1,85”, diz Campião, do Sebrae. 


Câmbio confortável, mas negócios pouco aquecidos
  

A marca mineira Mabel Magalhães vende seus vestidos de festa para o mercado internacional há cerca de dez anos. As vendas de peças de luxo com bordados e tecidos sofisticados para fora do país já chegaram a representar 20% do faturamento da marca. Hoje, respondem por cerca de 7%.

Segundo Ruy Magalhães, filho de Mabel e fundador da assessoria de comércio internacional Tercomex, a nova cotação ajuda com os negócios lá fora. Mas ainda é cedo para prever o impacto direto sobre as vendas. “No segmento específico de moda, a gente trabalha com a venda por coleções”, diz.


A grife Mabel Magalhães, que é administrada pelos herdeiros desde que a estilista faleceu, em 2004, vende cerca de 200 peças por coleção para o exterior, principalmente para a Europa e Oriente Médio. Para Ruy, o principal complicador para os negócios é o cenário de incerteza da economia internacional. 
 
Para importadora, saída é reduzir as margens

A publicitária Ana Cristina Simões fundou a importadora A & S em 2010 e iniciou os negócios no começo do ano passado. Com a distribuição exclusiva de cinco marcas de produtos de design divertido do Reino Unido e uma dos Estados Unidos, ela conquistou clientes rapidamente. A empresa vende no atacado para 11 estados brasileiros artigos de presentes, papelaria e gadgets. 
 
Desde janeiro deste ano, a empresa vinha crescendo a uma taxa de 40% ao mês em relação ao ano passado. Com a mudança no patamar do dólar, o jeito foi apertar as margens para cumprir os contratos já assinados. “A gente trabalha com uma faixa de segurança, usando um câmbio um pouco mais alto. Mas a valorização do dólar ultrapassou isso”, diz.
Por enquanto, a empresa está tentando absorver o impacto e renegociar alguns contratos. Ela importa cerca de 500 mil produtos por mês. “Se não cair, vamos ter de reajustar a tabela. Os preços vão deixar de ser tão competitivos”, afirma.

Dicas para evitar as turbulências

Como prever o comportamento do câmbio é difícil mesmo para especialistas, a indicação é tomar alguns cuidados para evitar se expor às turbulências.


Couri, do Simpi, sugere que as empresas procurem realizar contratos na mesma moeda. “Caso vá exportar o produto e tomar um empréstimo para produzir a encomenda, faça os dois contratos em dólar. Esse é o chamado hedge natural”, sugere.


Para o presidente do Simpi, o exportador também precisa ficar atento a questões simples, mas que podem passar despercebidas por empresas com menos experiência no mercado internacional. “Faça uma carta de crédito em um banco de primeira linha. Não corra riscos desnecessários”, diz. A busca por bancos de primeira linha reduz os riscos de a instituição ser abalada por uma crise que o leve a dar calote nos contratos. 

Fonte: Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios

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