Da arte ao investimento direto em empresas, sugestões heterodoxas para quem quer algo fora da bolsa e da renda fixa.
Em novembro no ano passado aconteceu um encontro inusitado na
capital paulistana, mas que já se consolidou como uma das opções de
investimento mais disputadas do país: o fórum de negócios de
investidores-anjo (é, eles se intitulam assim). Era uma manhã de
sexta-feira, e 30 interessados analisavam a oportunidade de aplicar
parte de seus recursos em um dos três negócios apresentados. O termo
anjo não quer dizer que eles fossem inocentes e interessados somente em
ser generosos – apenas que auxiliam no nascimento de uma empresa. Por
isso, eles queriam ser convencidos do retorno que teriam sobre o capital
investido em startups.
Criada em 2007, a São Paulo Anjos
possui 60 associados que costumam apostar individualmente entre R$ 50
mil e R$ 300 mil em empreendimentos com alto potencial de crescimento.
Como o investidor nunca entra sozinho em um negócio, este pode receber
entre R$ 200 mil e R$ 1,5 milhão de aporte. A ideia é fazer parte do
primeiro estágio de formação e consolidação da empresa – em um ciclo que
costuma durar de três a cinco anos – e rentabilizá-la o máximo
possível. “Quando os lucros estiverem atraentes, vendemos nossa
participação, geralmente para um fundo de venture capital ou private
equity”, afirma Alberto Sansiviero Junior, que além de anjo é diretor da
associação.
Não há perfil específico para ser um
investidor-anjo. Mas eles costumam ser, na maioria das vezes,
executivos, ex-executivos de grandes empresas ou profissionais liberais.
Na parte do Brasil que cresce como a China – ou além. Isso porque o
retorno sobre o investimento também é parrudo. É possível atingir
percentuais que variam de 50% a 200% de rentabilidade ao ano durante o
seu período de vida. Claro, considerando que o negócio dê certo. Caso
contrário, o risco é perder todo o capital empenhado. Para mitigar
possíveis tombos, os anjos usam duas estratégias: nunca entrar num
investimento sozinho (cada negócio conta com pelo menos quatro pessoas) e
investir em três, quatro projetos ao mesmo tempo. Outra regra é não
comprometer mais do que 20% do capital líquido nessas apostas. No ano
passado, os associados da São Paulo Anjos investiram em oito projetos.
Este ano, das mais de 2 mil propostas que receberam até novembro,
aprovaram participação em 25. Todas validadas em nove fóruns de
negócios.
No Brasil, pode-se dizer que essa modalidade é
ainda incipiente. Além da São Paulo, existem outras três associações do
gênero: Bahia Anjos (BA), Floripa Angels (SC) e Gávea Angels (RJ) – a
mais antiga, criada em 2002. Nos Estados Unidos e no Canadá, segundo
dados da ACA (Angel Capital Association), que reúne 165 grupos com mais
de 7 mil membros, os investidores-anjo se envolvem diretamente em cerca
de 700 novas empresas por ano e possuem um portfólio de mais de 5 mil
companhias de capital fechado. A Inglaterra, o país com mais tradição na
Europa em investimento-anjo, conta com 34 associações e mais de 5 mil
investidores, segundo dados da European Business Angel Network (Eban).
Mercado criativo
Em
um ano em que o Ibovespa, principal índice da bolsa, derreteu mais de
15% até novembro, por conta da crise na zona do euro e nos Estados
Unidos, e os ganhos com aplicações tradicionais em renda fixa estão
sendo corroídos pela inflação, cabe ao investidor descobrir novos
caminhos para rentabilizar seus recursos. O mercado financeiro costuma
ser criativo nessas horas, e tem colocado cada vez mais produtos nas
prateleiras. A depender do montante aplicado, alguns são bem mais
atraentes que outros. Vale pesquisar. Para quem gosta dos fundos de
investimentos, pelo menos dois têm se destacado: os private equity, para
alta renda, e os imobiliários, com tíquetes de entrada bem mais
acessíveis.
Considerada uma indústria relativamente nova
no Brasil (cerca de nove anos), os fundos de private equity são
investimentos de longo prazo, por volta de dez anos, período em que não
se aconselha mexer nos ativos aplicados. A natureza desses fundos é
investir em empresas e setores da economia que prosperam mais do que
outros. Daí a necessidade de conhecer bem os papéis que os compõem antes
de optar pela aplicação – que vai exigir, só para início de conversa,
R$ 100 mil do investidor. Dependendo do setor escolhido, mais ou menos
arriscado, a rentabilidade líquida do fundo pode chegar a inflação
(IPCA) + 20% ao ano – um dos maiores retornos na indústria de fundos do
país, que hoje acumula R$ 1,8 trilhão, sendo R$ 72 bilhões alocados só
em private equity. “É um investimento para cliente qualificado e que
pode esperar até o final do ciclo de desinvestimento para começar a
receber”, diz o superintendente do Bradesco Asset, Ricardo Mizukawa.
Neste caso, a relação de confiança entre o investidor e o gestor deve
ser altíssima, pois caso o cotista queira sair antes do final da
aplicação terá de negociar suas cotas no mercado secundário – e sofrer
com a falta de liquidez.
Outra opção para quem queira
investir no setor produtivo são os fundos imobiliários, bem mais
acessíveis. Com tíquete de entrada na faixa dos R$ 5 mil, essa
modalidade de investimento leva a grande vantagem de ser isenta de
imposto de renda e ter diversificação nos produtos oferecidos pelo
mercado, o que possibilita variações nos ganhos. Como sempre, quanto
maior o risco, maior a possibilidade de retorno. Puxados pelo boom
imobiliário, esses fundos dobraram de volume nos últimos 12 meses e
bateram a casa dos R$ 11,8 bilhões encerrados em setembro de 2011. O
investidor pode escolher o que melhor se adeque a seu perfil
Ter um negócio
Sempre
há aquele tipo de investidor que não topa mais nada além de aplicar o
dinheiro em algo físico, palpável, que ele possa conferir e interferir,
se preciso todos os dias. Aí o investimento começa a ficar parecido com
empreendedorismo. Então o investidor tem de estar disposto a gastar
parte do seu tempo. Ou encontrar alguém que queira trabalhar para ele,
ou pelo menos com ele – o marido, a mulher, algum parente...
Uma
alternativa de empreendedorismo “light” é abrir uma franquia. São mais
de 1,8 mil possibilidades de negócios em um mercado que bateu a casa dos
R$ 75 bilhões em faturamento e cresceu 20% no ano passado sobre 2009. A
previsão é avançar pelo menos mais 15% este ano. Um ponto a favor é o
baixo índice de mortalidade das empresas. Enquanto cerca de 60% dos
novos negócios de pequenas e médias empresas não completam o quinto ano
de vida, entre as franquias esse percentual não chega a 5%. Isso porque o
modelo já foi testado, e tem o apoio da matriz. É como se fosse uma
receita de bolo. Uma cartilha pronta. “É só seguir passo a passo o que
está dito lá, que não tem erro. A não ser que a escolha do ponto seja
ruim ou o investidor não tenha o perfil do negócio”, afirma Marcelo
Cherto. Ele está há mais de dez anos nesse mercado, e montou uma Loja de
Franquias. Com 75 marcas nos diversos setores econômicos, a
Franchinsing Store tem ofertas para todos os bolsos. “A partir de 40 mil
– além da taxa de franquia, dos royalties e do aluguel do ponto
comercial – já dá para encontrar muita coisa boa.” Para esta faixa de
investimento, leva-se em média de dois a três anos para obter o retorno
completo sobre o capital aplicado, e a retirada prevista é de cerca de
R$ 7 mil líquidos por mês. Se o negócio der certo, ganha-se muito com a
sua venda.
É possível negociá-lo até pelo dobro do preço aplicado inicialmente.
Mas
o céu é o limite para esse tipo de aplicação. Na faixa entre R$ 300 mil
e R$ 1,5 milhão há um espectro muito grande de bons negócios, com
rentabilidade bem mais elevada, em setores que vão do varejo ao
fast-food, passando por serviços e indústrias. Isso tudo se houver
disposição a seguir regras. O lado ruim da história é que não há
liberdade criativa dentro de uma franquia. Não é possível mudar o modelo
ou padrão estabelecido pela marca, a menos que se convença o seu dono a
fazer a mudança na rede como um todo.
Investindo em arte
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