sexta-feira, 25 de maio de 2012

Além do Trivial


Da arte ao investimento direto em empresas, sugestões heterodoxas para quem quer algo fora da bolsa e da renda fixa.

Em novembro no ano passado aconteceu um encontro inusitado na capital paulistana, mas que já se consolidou como uma das opções de investimento mais disputadas do país: o fórum de negócios de investidores-anjo (é, eles se intitulam assim). Era uma manhã de sexta-feira, e 30 interessados analisavam a oportunidade de aplicar parte de seus recursos em um dos três negócios apresentados. O termo anjo não quer dizer que eles fossem inocentes e interessados somente em ser generosos – apenas que auxiliam no nascimento de uma empresa. Por isso, eles queriam ser convencidos do retorno que teriam sobre o capital investido em startups.

Criada em 2007, a São Paulo Anjos possui 60 associados que costumam apostar individualmente entre R$ 50 mil e R$ 300 mil em empreendimentos com alto potencial de crescimento. Como o investidor nunca entra sozinho em um negócio, este pode receber entre R$ 200 mil e R$ 1,5 milhão de aporte. A ideia é fazer parte do primeiro estágio de formação e consolidação da empresa – em um ciclo que costuma durar de três a cinco anos – e rentabilizá-la o máximo possível. “Quando os lucros estiverem atraentes, vendemos nossa participação, geralmente para um fundo de venture capital ou private equity”, afirma Alberto Sansiviero Junior, que além de anjo é diretor da associação. 

Não há perfil específico para ser um investidor-anjo. Mas eles costumam ser, na maioria das vezes, executivos, ex-executivos de grandes empresas ou profissionais liberais. Na parte do Brasil que cresce como a China – ou além. Isso porque o retorno sobre o investimento também é parrudo. É possível atingir percentuais que variam de 50% a 200% de rentabilidade ao ano durante o seu período de vida. Claro, considerando que o negócio dê certo. Caso contrário, o risco é perder todo o capital empenhado. Para mitigar possíveis tombos, os anjos usam duas estratégias: nunca entrar num investimento sozinho (cada negócio conta com pelo menos quatro pessoas) e investir em três, quatro projetos ao mesmo tempo. Outra regra é não comprometer mais do que 20% do capital líquido nessas apostas. No ano passado, os associados da São Paulo Anjos investiram em oito projetos. Este ano, das mais de 2 mil propostas que receberam até novembro, aprovaram participação em 25. Todas validadas em nove fóruns de negócios.

No Brasil, pode-se dizer que essa modalidade é ainda incipiente. Além da São Paulo, existem outras três associações do gênero: Bahia Anjos (BA), Floripa Angels (SC) e Gávea Angels (RJ) – a mais antiga, criada em 2002. Nos Estados Unidos e no Canadá, segundo dados da ACA (Angel Capital Association), que reúne 165 grupos com mais de 7 mil membros, os investidores-anjo se envolvem diretamente em cerca de 700 novas empresas por ano e possuem um portfólio de mais de 5 mil companhias de capital fechado. A Inglaterra, o país com mais tradição na Europa em investimento-anjo, conta com 34 associações e mais de 5 mil investidores, segundo dados da European Business Angel Network (Eban).

Mercado criativo
 
Em um ano em que o Ibovespa, principal índice da bolsa, derreteu mais de 15% até novembro, por conta da crise na zona do euro e nos Estados Unidos, e os ganhos com aplicações tradicionais em renda fixa estão sendo corroídos pela inflação, cabe ao investidor descobrir novos caminhos para rentabilizar seus recursos. O mercado financeiro costuma ser criativo nessas horas, e tem colocado cada vez mais produtos nas prateleiras. A depender do montante aplicado, alguns são bem mais atraentes que outros. Vale pesquisar. Para quem gosta dos fundos de investimentos, pelo menos dois têm se destacado: os private equity, para alta renda, e os imobiliários, com tíquetes de entrada bem mais acessíveis.

Considerada uma indústria relativamente nova no Brasil (cerca de nove anos), os fundos de private equity são investimentos de longo prazo, por volta de dez anos, período em que não se aconselha mexer nos ativos aplicados. A natureza desses fundos é investir em empresas e setores da economia que prosperam mais do que outros. Daí a necessidade de conhecer bem os papéis que os compõem antes de optar pela aplicação – que vai exigir, só para início de conversa, R$ 100 mil do investidor. Dependendo do setor escolhido, mais ou menos arriscado, a rentabilidade líquida do fundo pode chegar a inflação (IPCA) + 20% ao ano – um dos maiores retornos na indústria de fundos do país, que hoje acumula R$ 1,8 trilhão, sendo R$ 72 bilhões alocados só em private equity. “É um investimento para cliente qualificado e que pode esperar até o final do ciclo de desinvestimento para começar a receber”, diz o superintendente do Bradesco Asset, Ricardo Mizukawa. Neste caso, a relação de confiança entre o investidor e o gestor deve ser altíssima, pois caso o cotista queira sair antes do final da aplicação terá de negociar suas cotas no mercado secundário – e sofrer com a falta de liquidez.

Outra opção para quem queira investir no setor produtivo são os fundos imobiliários, bem mais acessíveis. Com tíquete de entrada na faixa dos R$ 5 mil, essa modalidade de investimento leva a grande vantagem de ser isenta de imposto de renda e ter diversificação nos produtos oferecidos pelo mercado, o que possibilita variações nos ganhos. Como sempre, quanto maior o risco, maior a possibilidade de retorno. Puxados pelo boom imobiliário, esses fundos dobraram de volume nos últimos 12 meses e bateram a casa dos R$ 11,8 bilhões encerrados em setembro de 2011. O investidor pode escolher o que melhor se adeque a seu perfil

Ter um negócio
 
Sempre há aquele tipo de investidor que não topa mais nada além de aplicar o dinheiro em algo físico, palpável, que ele possa conferir e interferir, se preciso todos os dias. Aí o investimento começa a ficar parecido com empreendedorismo. Então o investidor tem de estar disposto a gastar parte do seu tempo. Ou encontrar alguém que queira trabalhar para ele, ou pelo menos com ele – o marido, a mulher, algum parente...

Uma alternativa de empreendedorismo “light” é abrir uma franquia. São mais de 1,8 mil possibilidades de negócios em um mercado que bateu a casa dos R$ 75 bilhões em faturamento e cresceu 20% no ano passado sobre 2009. A previsão é avançar pelo menos mais 15% este ano. Um ponto a favor é o baixo índice de mortalidade das empresas. Enquanto cerca de 60% dos novos negócios de pequenas e médias empresas não completam o quinto ano de vida, entre as franquias esse percentual não chega a 5%. Isso porque o modelo já foi testado, e tem o apoio da matriz. É como se fosse uma receita de bolo. Uma cartilha pronta. “É só seguir passo a passo o que está dito lá, que não tem erro. A não ser que a escolha do ponto seja ruim ou o investidor não tenha o perfil do negócio”, afirma Marcelo Cherto. Ele está há mais de dez anos nesse mercado, e montou uma Loja de Franquias. Com 75 marcas nos diversos setores econômicos, a Franchinsing Store tem ofertas para todos os bolsos. “A partir de 40 mil – além da taxa de franquia, dos royalties e do aluguel do ponto comercial – já dá para encontrar muita coisa boa.” Para esta faixa de investimento, leva-se em média de dois a três anos para obter o retorno completo sobre o capital aplicado, e a retirada prevista é de cerca de R$ 7 mil líquidos por mês. Se o negócio der certo, ganha-se muito com a sua venda. 

É possível negociá-lo até pelo dobro do preço aplicado inicialmente.
Mas o céu é o limite para esse tipo de aplicação. Na faixa entre R$ 300 mil e R$ 1,5 milhão há um espectro muito grande de bons negócios, com rentabilidade bem mais elevada, em setores que vão do varejo ao fast-food, passando por serviços e indústrias. Isso tudo se houver disposição a seguir regras. O lado ruim da história é que não há liberdade criativa dentro de uma franquia. Não é possível mudar o modelo ou padrão estabelecido pela marca, a menos que se convença o seu dono a fazer a mudança na rede como um todo.

O céu é o limite para quem quer investir em franquias. Na faixa entre
R$ 300 mil e R$ 1,5 milhão, há um espectro grande de bons negócios

Investindo em arte 
 
Outra forma de diversificar é apostar em arte. Não é um mercado para amadores. Se você não entende bem do assunto, uma opção é entregar o dinheiro a um gestor. Por enquanto, não é fácil: hoje, só existe um fundo de investimentos em artes no país – e ele está fechado para novas captações. O BGA (Brazil Golden Art) foi criado em novembro de 2010 e já em abril deste ano havia atingido a sua meta. Com tíquete mínimo de entrada em R$ 100 mil, conquistou 70 investidores, captou R$ 40 milhões em patrimônio e adquiriu um acervo de 270 obras de artistas contemporâneos brasileiros. “Mas não paramos por aqui. Ainda estamos atrás dessa nova geração de artistas nacionais. Muitas dessas obras valorizaram entre 50% e 500% na última década”, diz Heitor Reis, ex-diretor do MAM (Museu de Arte Moderna) e um dos quatro sócios do fundo. Segundo ele, este é um tipo de investimento com ciclo de vida predeterminado de cinco anos (três de investimentos e dois de desinvestimento). Após esse período, o acervo será vendido total ou parcialmente para realização de lucro e distribuição de rendimentos aos cotistas. “Já penso em criar outro fundo com as mesmas características em breve.”

Fonte: Época Negócios

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