segunda-feira, 26 de março de 2012

Comércio mundial move-se cada vez mais para o Leste

O comércio global, há tempos dominado pelas economias avançadas, está sofrendo uma mudança permanente em direção ao Leste. Essa é a conclusão do estudo Trading places: The emergenceof new patternsof international trade, elaborado pela Ernst &Young em parceria com a Oxford Economics. Os países do eixo Ásia-Pacífico vivenciarão o crescimento mais rápido de comércio internacional no período até 2020, e o comércio intrarregional resultará em renovação da concentração de demanda internacional.

Embora o comércio global tenha permanecido restrito durante a crise financeira, desde então ele tem mostrado recuperação de forma vigorosa, liderado pelo comércio entre os mercados emergentes. As trocas comerciais foram dominadas pelas nações desenvolvidas no começo dos anos 1990, mas a contribuição desses países tem caído acentuadamente e essa tendência deverá continuar com ainda mais intensidade até 2020.

“Enquanto as economias avançadas tentam sair da crise financeira, os mercados de rápido crescimento estão indo de vento em popa e são parte cada vez mais significativa da economia global”, diz Jay Nibbe, líder da Ernst & Young para as regiões da Europa, Oriente Médio, Índia e África. 

“Eles se tornarão uma força ainda mais dominante no comércio global e, como resultado, empresas terão que adequar suas estratégias de negócios refletindo o crescente padrão regional do comércio mundial que está surgindo e se intensificará na próxima década.”

Cenário em 2020

O estudo estima que a mudança contínua em direção à terceirização global da produção – assim como o crescimento de cadeias de suprimento regionais que servem à rápida expansão da demanda dos mercados emergentes – irá comprimir a fatia que as economias avançadas representam no comércio global de pouco mais de 60% em 2010 para aproximadamente 55% até 2020. 

A Ásia continuará a ser a região mais dinâmica em termos de comércio, com o crescimento mais rápido em exportação de produtos ocorrendo dentro da própria região. Índia e China irão conduzir o crescimento contínuo dos mercados emergentes e, juntas, essas economias representarão quase 20% do fluxo de comércio global até 2020.

Índia e China também serão as fontes de crescimento mais rápido da demanda de exportações vindas de outros países. O estudo mostra que duas das rotas de comércio que crescerão mais rapidamente são as exportações dos EUA para a China e a Índia, cujo crescimento prenunciado segue uma média anual de quase 16%. Sendo assim, enquanto a parcela americana nas exportações mundiais caiu significativamente na última década, a previsão do estudo diz que essa tendência será revertida durante os próximos 10 anos, com os EUA capitalizando sua força em exportar para a Ásia.

Já a fatia europeia das exportações globais declinará de 38% em 2010 para 34% até 2020. No entanto, o estudo mostra que a Europa é a região desenvolvida que mais se beneficiará em termos de valores de exportação pela expansão da demanda na China, com exportações para o país crescendo em US$ 370 bilhões durante os próximos 10 anos. As exportações da China para a Europa, previstas em mais de US$ 1 trilhão, serão quase duas vezes maiores do que as exportações dos EUA para a Europa.

“Apesar do rápido crescimento que ocorre na Ásia em relação ao volume de comércio, o estudo mostra que é do comércio intrarregional da Europa que se espera maior aumento de volume de dólar na próxima década”, explica Rain Newton-Smith, assessor econômico sênior da Ernst & Young. “A segunda maior alta no volume do comércio em geral está prevista para acontecer entre China e o restante da Ásia, com fluxos em direção oposta ocupando o terceiro lugar”.

Padrões regionais do comércio

Novos mercados para exportação também estão se abrindo na região formada pelo Oriente Médio, Norte da África e África subsaariana, conforme essas economias crescem em tamanho. O prognóstico no total de exportações para esses locaisé de crescimento mais rápido se comparado às exportações para os EUA, Europa, Japão e o restante das Américas. 

As previsões sugerem que exportadores europeus irão conquistar aproximadamente 25% do crescimento na demanda final da África subsaariana, mas exportadores da Ásia irão capturar quase 50% dele. O forte investimento de outros países emergentes, particularmente a China, pode facilitar o sólido crescimento de que a África precisa.

As exportações da Europa para a África e para o Oriente Médio mensuradas em mais de US$ 900bilhões se tornarão 50% maiores do que as exportações feitas para os EUA. A Europa será o mercado mais importante para as exportações da África subsaariana, representando 25% de todas as transações comerciais. Mas a dimensão total do fluxo dessa região africana para a Europa ainda será relativamente pequena, de US$ 108 bilhões.

Na América Latina, a abundância de recursos naturais e fortes entradas de Investimento Estrangeiro Direto (IED) permitirão melhorias na produtividade para sustentar o crescimento potencial. Grandes populações e o rápido acúmulo de riquezas, particularmente no Brasil, também irão respaldar o crescimento da demanda doméstica da região. Até 2020, as exportações da América Latina e do Caribe para os EUA, hoje em torno de US$ 769 bilhões, ficarão ligeiramente maiores do que as exportações da Europa para os EUA.

Fluxo regional de serviços

É também possível que o comércio de serviços testemunhe um rápido crescimento, com a Ásia mais uma vez na liderança. Até 2020, o fluxo total de serviços da Europa para a Ásia-Pacífico (com exceção do Japão) será maior do que para a América do Norte.

“Um dos maiores motores dessa expansão será o crescimento no setor bancário, dos seguros e outros serviços financeiros, dado o amadurecimento da economia asiática e o desenvolvimento da classe média. A demanda por serviços financeiros mais sofisticados já cresce rapidamente com o aumento dos níveis de riqueza e o também aumento de importância da região como centro financeiro”, afirma Nibbe. 

Não é apenas em relação aos serviços financeiros que se espera rápido crescimento na Ásia – a expectativa é a de que o turismo também seja um setor cada vez mais importante, uma vez que o número de turistas internacionais que viajam da China com destino a outros países está previsto para praticamente dobrar, de 32milhões em 2010 para 59 milhões até 2020. O aumento de gastos associados será ainda mais significativo, crescendo de US$ 52 bilhões em 2010 para US$ 222 bilhões em 2020. 

O comércio intrarregional de serviços na Europa irá testemunhar o maior aumento durante o período. Os EUA e a Europa continuarão a dominar esse mercado, com China e Índia ganhando cota cada vez mais significativa de mercado no resto da Ásia.

Setores

O setor de maquinário e equipamento de transportes (que inclui produtos elétricos como computadores, televisores e lavadoras de roupas, bem como maquinário industrial) dará a maior contribuição para o crescimento do comércio nos próximos dez anos, seguido por outros fabricantes como indústria têxtil, madeira e borracha.

No total, esses setores dominantes serão responsáveis por quase 54% do comércio de mercadorias até 2020. Isso reflete tanto o crescimento forte da demanda por bens de consumo, quanto de investimento esperado dos mercados emergentes e também o potencial de fragmentar a cadeia de suprimento, pelo aumento na produção de componentes em diferentes localidades. É prevista uma elevação de 18% para 24% na fatia de mercado ocupada pela China nesse setor de comércio.

Riscos e Incertezas

Com a rápida mudança na oferta global e a demanda incerta, há uma série de cenários alternativos e riscos que poderiam ameaçar ou impulsionar o crescimento no comércio global para 2020. 

“Talvez o mais dramático fosse um cenário de realinhamento monetário – uma valorização do dólar frente ao yuan, ou o inverso –, o que implicaria um reequilíbrio da demanda doméstica entre as regiões dos EUA e Ásia-Pacífico.

Isso teria impactos significativos nos padrões de comércio projetados. Em outro caso, mesmo uma aceleração parcial da liberalização do comércio poderia levar a um aumento maior do que o esperado nos fluxos de comércio global”, conclui Newton-Smith.

Fonte: Canal Executivo

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