Para o diretor da Escola Politécnica de Milão, é preciso ter pessoas com visões diferentes para criar um produto campeão de vendas.
"Se existisse um passo a passo para inovar, não seria mais inovação - e, sim, repetição".
Inovar virou um daqueles mantras que muitos presidentes de
empresa repetem à exaustão. Criar uma cultura que promova a inovação
dentro das empresas, porém, é tarefa para poucos, diz o italiano Roberto
Verganti, diretor da Escola Politécnica de Milão.
No livro Design-Driven Innovation, recém-lançado no Brasil, Verganti
não dá receitas fáceis do que fazer, mas descreve o que, na sua visão,
os executivos devem considerar para criar um produto campeão de vendas.
1) EXAME - O que o senhor entende por inovação?
Defino o conceito de inovação por meio de três características: ser uma
novidade, ter maior valor agregado — pois nem tudo o que é novo é mais
valioso — e, por último e mais relevante, ser aplicável ao dia a dia dos
consumidores.
2) EXAME - Hoje é mais fácil para as empresas inovar?
A dificuldade não é encontrar algo novo, mas, sim, melhor e mais
funcional. Com a internet, encontrar boas ideias ficou mais fácil.
Diversas empresas utilizam seus sites para coletar sugestões dos
consumidores. Mas quantas delas vão chegar ao mercado? Quantas serão
campeãs de vendas?
3) EXAME - O que uma empresa precisa fazer para desenvolver um campeão de vendas?
Não há um manual com o passo a passo para ser inovador. Se existisse, o resultado não seria mais inovação.
Seria algo comum. Há evidências de que um sucesso de vendas é criado
quando a empresa amplia seus horizontes, quando examina sua realidade a
partir de novas perspectivas.
Se você tem uma companhia que produz macarrão, por exemplo, talvez seja
uma boa ideia conversar com os executivos de uma fábrica de utensílios
de cozinha.
4) EXAME - Qual é a lógica?
Em poucas palavras, é difícil criar um produto vencedor sozinho. Para
atingir essa meta, é preciso se cercar de pessoas que possam pensar
sobre o mesmo tema de diferentes maneiras, com visões distintas. Cada
empresa tem seus próprios meios de chegar a um produto. Se tentar copiar
o que a Apple fez, é certo que não vai muito longe.
5) EXAME - A Apple é o grande exemplo de inovação?
Definitivamente é um deles. Mas existem muitas empresas competindo para
desenvolver produtos que representem um novo conceito para seus
consumidores. A japonesa Nintendo, que criou o videogame Wii, é outro
exemplo.
Embora o concorrente PlayStation, fabricado pela Sony, seja mais potente
e veloz, o Wii estabeleceu uma nova relação dos usuários com o
videogame, que deixou de ser brinquedo apenas para adolescentes. Hoje,
pais e avós estão usando o Wii.
6) EXAME - A inovação sempre está associada à tecnologia?
As duas coisas trabalham juntas. A tecnologia pode tornar mais potente
algo que já existe ou mudar radicalmente a experiência. As pessoas não
compram um iPhone porque a qualidade da ligação vai ser melhor. É pela
experiência.
7) EXAME - A economia dos Estados Unidos e a de vários países
da zona do euro estão em situação difícil. Dá para pensar em inovação em
tempos de crise?
Em uma economia rica e em expansão, é bem mais fácil sobreviver sendo
ineficiente ou tendo um produto ruim. Nesses momentos, é quase
impossível deixar de vender.
Mas, com uma economia mais fraca, as chances de quem não tem um bom
produto desaparecer são enormes. Ou seja, a crise é um incentivo para a
inovação. Pelo menos, deveria ser.
Fonte: Exame, por Guilherme Manechini
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