As 500 maiores empresas do país nunca faturaram tanto, de acordo com Melhores e Maiores 2012. Mas lucros em queda mostram que o Brasil se ressente da falta de reformas.
Passada a euforia de 2010, quando o produto interno bruto brasileiro
cresceu estupendos 7,5%, um certo ar de ressaca tomou os humores da
economia brasileira no ano passado. Para o Brasil, 2011 foi um misto de
alívio — afinal, em um mundo em crise, conseguimos crescer 2,7% — com
desconfiança do cenário que se desenha no horizonte.
Esse espírito foi captado pelos números reportados pelas 500 maiores empresas do
país, premiadas no dia 4 de julho na festa da edição especial
Melhores e Maiores 2012. Por um lado, esse conjunto de empresas teve
faturamento líquido de 2 trilhões de reais em 2011, montante 7,3% maior
que o do ano anterior.
É, sem dúvida, uma soma de respeito: foi o maior faturamento registrado em 39 anos de acompanhamento da economia feito por Melhores e Maiores. Por outro lado, o lucro das empresas recuou quase 17%, e o retorno do patrimônio caiu de 10,7% para 8,2%.
Também as margens de vendas deram um sinal de alerta de que nem tudo no
universo corporativo — e, por extensão, na economia brasileira — está
sob céu azul. Esse indicador fechou 2011 em 8,2%, seu segundo pior
patamar desde 2003.
Conforme afirmou em seu discurso Roberto Civita, editor e presidente do
conselho de administração do Grupo Abril, um jeito positivo de encarar a
situação é que o país, livre afinal da euforia vivida em 2010, tem a
chance de enxergar a economia sem superestimar seus méritos — e sem
negligenciar suas fraquezas.
Para este ano, analistas já enxergam a possibilidade de crescimento da economia inferior
a 2%. Representante do governo na festa, o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, voltou a reforçar seu argumento de que o Brasil está preparado
para enfrentar a crise externa. “Não podemos nos deixar impressionar
pelo mau humor do cenário internacional”, disse ele.
E, na sequência, elencou medidas oficiais tomadas para fazer frente às
intempéries, como o corte de tributos de setores como linha branca e
móveis e um pacote de compras públicas de 6,6 bilhões de reais. Mas as
respostas dadas pelo governo a novos solavancos — sejam elas eficazes ou
não — costumam ter efeito de curta duração.
A redução temporária de imposto para um segmento industrial, por
exemplo, não vai resolver todos os problemas da indústria do país, a
área mais afetada pela crise atual.
E eis uma grande lição a ser aprendida com o ano de 2011: o país
precisa, de verdade, de um plano de voo de longo prazo. Só assim um ano
de forte crescimento, como 2010, não será sucedido por um decepcionante.
“Quem está formulando os passos que precisamos dar à frente? Quem está
fazendo plano estratégico de longo prazo? Os partidos políticos? O
empresariado? As associações de classe? Os centros de pesquisa? A
universidade? Lamento, mas a resposta é: não, não, não, não e não”,
disse Roberto Civita aos cerca de 1 200 empresários e executivos que
lotaram o Clube Monte Líbano para assistir à premiação.
“Não dá para tocar a vida e muito menos nossas empresas ou o país
olhando para o curtíssimo prazo, como se tudo dependesse da cotação do
dólar, da bolsa de valores ou do saldo comercial do trimestre. É hora de
olhar para a frente — e pensar com seriedade em como vamos construir um
país melhor para nossos filhos e netos.”
Foi com o olho no longo prazo que uma empresa criada em uma garagem em
São Paulo em 1983 pôde se tornar uma das maiores de seu setor no mundo.
Ernesto Haberkorn e Laércio Cosentino fiaram-se na profecia de Bill
Gates, criador da Microsoft, de que no futuro haveria um computador em
cada casa.
E assim a dupla criou a empresa de software Totvs. Em 2011, o
faturamento da companhia passou pela primeira vez de 1 bilhão de reais.
Ao multiplicar as vendas por 10 em uma década e tornar-se a sexta maior
empresa de software de gestão do mundo, a Totvs foi escolhida a empresa
do ano por Melhores e Maiores 2012.
Na chamada “década perdida”, a companhia enxergou uma oportunidade — e
ficou rica antes de ficar velha. No momento, o Brasil tem igualmente a
oportunidade de enriquecer antes de envelhecer. Que comecemos a
preparar o terreno para isso — antes que a oportunidade seja
desperdiçada.
Fonte: Exame, por Patrick Cruz
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