quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Maganize Luiza é exemplo para empresas familiares


Profissionalismo à frente dos negócios deve ser parte fundamental do projeto de expansão de empresas familiares
Apesar de a crise nos países desenvolvidos ter se intensificado e de o governo brasileiro já ter revisto as previsões de crescimento para o país, especialistas afirmam que mercados emergentes como o Brasil continuarão suprindo as demandas internacionais por commodities e seguirão com economias aquecidas. Neste contexto, as companhias nacionais precisam lidar com cenários antagônicos: se proteger das ameaças externas e aproveitar as oportunidades internas de crescimento. Sendo assim, a solidez de empresas familiares, que representam 98% do total no Brasil, segundo dados de 2011 do IBGE, é parte importante da engrenagem econômica do país.
No entanto, pesquisas mostram que, aproximadamente, de cada 100 empresas familiares no Brasil, 30 sobrevivem à segunda geração, e apenas cinco chegam à terceira. No atual cenário macroecômico, em que fusões e aquisições acontecem com freqüência e produtos importados representam cerca de 20% do mercado brasileiro, a concorrência em qualquer setor está cada vez mais forte. As empresas, portanto, precisam ampliar horizontes e organizar os negócios se quiserem crescer – ou até mesmo sobreviver.
Para abrir capital, por exemplo, é necessário que a empresa tenha transparência e metas claras e objetivas de rentabilidade (o que nem sempre ocorre em empresas familiares), pois passará a prestar contas a acionistas. E esse pode ser um caminho vantajoso: o Magazine Luiza, empresa familiar, lançou ações na Bolsa no começo desse ano, captando R$ 925,8 milhões.
Analistas de mercado apontam que o segredo da expansão da rede, que começou com uma loja na cidade paulista de Franca há mais de 60 anos e hoje tem mais de 600 espalhadas pelo Brasil, é o profissionalismo à frente dos negócios, que não permite que os egos familiares ganhem destaque. Vale lembrar ainda que recentemente a companhia deu mais um passo rumo ao crescimento e adquiriu o Baú da Felicidade, que era do grupo Silvio Santos.
Mesmo que a abertura de capital não esteja nos planos imediatos da empresa, adotar com afinco práticas de governança corporativa e implantar regras claras de gestão é o primeiro passo na busca pela perenidade dos negócios – afinal uma empresa familiar se preocupa em deixar um legado para as próximas gerações.
Definir a estrutura organizacional e os papéis dos executivos que vão conduzir a profissionalização deve fazer parte das novas regras logo de início. Os líderes merecem atenção especial durante esse processo, pois serão eles que irão ajudar a consolidar as práticas necessárias. Um dos desafios é identificar as posições-chave para essa empresa que está se remodelando, analisar se contratações são necessárias e buscar talentos dentro da própria empresa e entre os membros da família (processo conhecido como assessment).
A família não deve ser necessariamente afastada do controle, mas é importante fazer uso de critérios racionais para avaliar a competência dos executivos e as necessidades de mudanças no quadro de diretores. É possível até que a melhor solução seja uma administração mista. De acordo com pesquisa realizada em 2010 pela consultoria McKinsey, empresas familiares têm rentabilidade 3% superior, em média, à de negócios não familiares, justamente pelo comprometimento do clã fundador. Se for detectada a necessidade de contratação de gestores externos, o que ocorre na maioria dos casos, esta deve ser incorporada ao planejamento estratégico.
O segundo passo é integrar a cultura da empresa, que não pode ser desprezada, a essa nova realidade. Para conquistar os objetivos da nova linha de gestão, é fundamental avaliar as competências e o perfil dos executivos para desenvolver e fortalecer comportamentos, alinhando a liderança à estratégia do negócio. Ter um acompanhamento ao longo do processo, que avalie os resultados e promova ajustes, contribui para consolidar a nova administração.
A profissionalização das empresas familiares é, portanto, peça-chave para seu sucesso e perpetuação. Além de garantir altos padrões de governança, gestão e performance, a profissionalização é também um antídoto contra eventuais desavenças familiares que possam, no futuro, comprometer a saúde e até mesmo a sobrevivência do negócio.

Patricia Epperlein é sócia-presidente da Mariaca, empresa de gestão de capital humano.

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